Quanto temos de esquecer de nós para sermos o que esperam de nós?
Nascemos selvagens e logo se encarregam de nos igualizar!
Quebram-nos, normalizam-nos e ensinam-nos a ter vergonha de sermos melhores que os outros!
Crescemos e ensinam-nos que o outro merece a nossa mudança!
Aliás, quem não mudar é logo ameaçada(o) com a solidão eterna!
Assim parece-nos lógico uma adaptação ao outro, quando na realidade isso implica que temos de abdicar de muito de nós!
E geralmente abdicamos daquilo que nos faz felizes!
Abdicamos da nossa irreverência, como se numa relação fosse obrigatório uma parte domar a outra!
Abdicamos da nossa espontâneadade, de forma a entrarmos na formatação social da previsibilidade esperada!
Abdicamos de objectivos pessoais e intransmissíveis, pois numa relação tudo tem de ser misturado e por isso diluído!
Com o passar do tempo começamos a ter saudades de ser como éramos!
E passado tempos chegamos à conclusão que mudámos por alguém e esse alguém nada mudou!
Nos inícios parece que ambas as partes mudam, mas na realidade só uma delas tem de mudar!
A outra apenas tem de ceder aqui e ali temporariamente!Volta sempre a ser quem era!
Por isso hoje as relações são de muita má qualidade!
Porque as pessoas andam a mudar pelas outras e ao fim de algum tempo já nem sabem porque mudaram!
Existem qualidades nossas que são incompatíveis com uma relação!
Só as conhecemos depois de muitas más relações!
Por isso ensinam as pessoas a mudar, porque com essa mudança todos ganham!
O problema que quando nos passa a idealização e reconhecemos o quanto fomos estúpidos(as), reconhecemos que não ficam duas partes a ganhar!
A realidade é que uma ganha e a outra perde!
Claro que a que perde, tem de ser convencida que ganha!
Quantos mais anos passam mais a parte que perde, vê quanto ganhou a parte que ganha!
A uma parte tudo é permitido e à outra tudo é exigido!
Claro que na relações, quem mais muda são as mulheres!
Seja educacional, por personalidade ou algum interesse mais pessoal, a mulher permite muitas mais mudanças "para que tudo dê certo"!
Claro que para tudo dar certo, a parte que muda mais, tem de ceder mais!
Por isso vemos as mulheres (quando começam uma relação) a mudar rotinas!
Desaparecem, evaporam-se, diluem-se na relação e despersonalizam-se!
Tudo para a relação dar certo!
Descartam amizades, cortam pontes familiares e tornam-se reféns voluntárias das suas relações!
Tudo para a relação dar certo!
Mudam hábitos, criam necessidades que não precisam e embebedam-se com rotinas!
Tudo para as relações darem certo!
Envelhecem com preocupações, descuidam-se com o seu corpo e vestem baixas autoestimas!
Tudo para a relações darem certo!
Calam-se contrariadas, gritam quando explodem e choram às escondidas!
Tudo para as relações darem certo!
Aturam mais merdas, permitem outras faltas de respeito e fecham o olhos ao óbvio!
Tudo para as relações darem certo!
Deixam os corpos ao abandono do toque, lambidelas e penetrações e sentem que já não provocam como antes!
Tudo porque a relação não pode acabar!
Não se dão ao respeito, permitem faltas de respeito e deixam a outra parte desrespeita-las!
Tudo porque não querem que a relação acabe!
E de repente já não são quem eram, mas sim quem esperam delas!
Esqueceram por completo, que antes eram outras pessoas e que apenas abdicaram de ser quem eram, porque só assim tinham uma relação feliz!
Agora perante a infelicidade, não percebem como deixaram o mundo mudá-las!
Logo elas que antes eram tão diferentes!
Logo elas que antes não permitiam nada e agora engolem tudo!
Os anos passam e as relações já não compensam, tudo o que perderam!
E de repente decidem recuperar tudo o que eram!
E claro que voltando a ser quem eram as relações acabam!
Aliás, as relações só existiram para que uma das partes amansa-se!
A maioria são mulheres, pois o machismo ainda faz parte, do pilar da educação maternal em Portugal!
Mas há muitos homens, que tendo mudado para que as relações dessem certo, vêem agora que não valeu a pena!
E claro, voltam a ser quem eram antes!
E sabem a maior magia que acontece depois?
A vida depois junta um homem que voltou a ser quem era e uma mulher que voltou a ser quem era e dá certo!
E quando dá certo, estas pessoas vivem culpas interiores permanentes por terem mudado, quando não precisavam de ter mudado!
Perderam anos de vida a não serem quem eram!
E agora olham e sabem que têm menos anos de vida, para poderem ser quem eram!
As pessoas precisam ser únicas e diferentes!
Quem é igual a toda a gente, morre ainda viva(o)!
Andam nesta vida a respirar, mas morreram quando abdicaram de ser quem eram!
Claro que existem pessoas (poucas mas existem) que passam a vida toda a serem quem querem ser!
Essas pessoas metem medo às restantes, pois são selvagens de alma e quereres!
Quem foi domada(o) borra-se de medo destas pessoas, pois elas são tudo, o que elas podiam ter sido e deixaram de ser!
Em tempos de cérebros alugados, ser selvagem é realmente único!
Em tempos de massificação de hábitos, ser selvagem é visto como anormal!
Em tempos de normalização social, ser selvagem é um perigo!
Nada existe de pior do que quem foi domada(o) aperceber-se que o foi!
Saber que na realidade podia ter sido quem queriam ser e no entretanto acabaram sendo quem os outros queriam que fossem, é doloroso!
Por isso sejam quem querem ser, sem pensar nos outros!
Quem achar que vocês são selvagens, nada tem para vos acrescentar!
Mas quem achar que vocês selvagens, são muito mais do que domadas(os), merecem a vossa dedicação!
E para quem estiver a achar que ser selvagem é mau, fique a saber que fazem parte de quem foi domada(o)!
Ser selvagem só tem conotação negativa, porque quem foi domado assim o quer!
Olhem para o exemplo da natureza...
A natureza que foi domada, tem a sua beleza mas morre rapidamente!
A natureza selvagem, resiste a tudo e todos!
Aliás, se pensarem bem os vossos momentos mais felizes tiveram o mais selvagem de vós...